Sebastião Salgado e sua veia antropológica

Fui ao cinema ver O Sal da Terra porque sou muito fã do fotógrafo Sebastião Salgado. Tenho vários livros, já fui a algumas exposicoes, enfim... Fui em busca de sua história contada em fotos e encontrei um filme que a conta de maneira documental e contextual, fazendo o espectador entender as motivações do artista e sentir um pouquinho o que ele experimentou em cada projeto. A direção do filme teve o mérito de não deixar que a película falasse mais alto do que as delicadas imagens que apareciam para contar cada etapa de sua vida.

Mas na verdade o que me surpreendeu de fato foi ter percebido que Salgado é sobretudo um antropólogo, embora ele mesmo tenha negado em entrevista à National Geographic (2013) dizendo "- Já disseram que faço um trabalho antropológico. Não é verdade. Fotógrafo as coisas que acho belas. E as que me revoltam."

Cada projeto se inicia com uma grande pesquisa bibliográfica, onde busca conhecer a história e os hábitos de cada povo e região que vai visitar. São pelo menos 2 anos viajando onde, com cada grupo, povo ou família passa dias, às vezes meses para que sua presença se torne natural não só para o grupo mas para ele mesmo, que observando e vivenciando os hábitos do outro (aqui também o conceito de auteridade) consegue ele próprio perceber as sutilezas de uma expressão, um olhar, um gesto.

Que de outra forma se explicaria imagens tão fortes e significativas, ao mesmo tempo tão reais e documentais? Como explicar registros de momentos tão naturais como dentro das escavações de Serra Pelada ou de mulheres da tribo Zo'e totalmente à vontade? Dificilmente um fotógrafo consegue uma imagem assim com uma única visita ou com um incrível zoon.

Sebastião Salgado, dessa forma, conseguiu de fato divulgar mundo a fora o que realmente se passa com as pessoas que ele conviveu e registrou seus momentos. Mais do que simplesmente mostrar o retrato de suas dores, crenças, atitudes ou fatos, o fotógrafo apresenta em suas fotos um pouquinho da experiência que ele próprio viveu nos dias que esteve com cada uma delas. Mais do que tocar com a beleza de suas pinturas com luzes, contrastes e enquadramentos, por vezes estranhos até, mas sempre com resultados poéticos, Salgado leva para o mundo a realidade mostrada, não contada por alguém que a interpreta com julgamentos individuais, mas por alguém que observa e sem nenhum traço crítico, expõe.

Adorável surpresa de ir conhecer um pouco mais o fotógrafo e encontrar um antropólogo :)

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