Vamos falar de marca?

Falar de marca hoje tem um nome: branding. Embora mais um termo em inglês sem tradução e que condensam conceitos que certamente já conhecemos, esse deve-se guardar uma especial atenção. É um assunto relacionado a gestão, marketing e design e todas as empresas devem pensar e trabalhar nisso.

Está acontecendo essa semana no MAM (no Rio) o Brazil Design Week, um evento excelente totalmente voltado para o mundo corporativo – os clientes dos escritórios de design, na verdade – realizado pela ABEDESIGN, uma associação brasileira de empresas de design. Só uma passadinha pelos stands já vale a visita. São 38 expositores – entre instituições como a própria ABEDESIG, FIRJAN, SEBRAE e vários escritórios de design – que mostram a excelência em que o design brasileiro se encontra.

Devemos reconhecer que os estrangeiros reconheceram essa excelência antes de nós. Já está mais do que na hora dos empresários – infelizmente ainda não tão presentes no evento – olharem pra dentro do próprio país e localizar a empresa de design que melhor se alinhe e atenda suas necessidades relacionadas à marca.

Mas que questões são essas?
Temos sentido nesses últimos 10 anos um amadurecimento no mercado brasileiro. Temos visto pequenas empresas ou muitas vezes até grandes mas desconhecidas, alcançarem patamares de faturamento e status internacional nunca vistos. Certamente impulsionados pela economia interna – que em muitos anos não se via tão forte e promissora – mas também pela própria necessidade de sobrevivência.

Essa virada se deu através de um trabalho forte de marca: desde processos internos (incluindo pessoas) até sua “experiência” de marca junto ao seu público (não mais tratados como “consumidores”).

Alguns exemplos foram dados nas palestras de Lincoln Seragini (Seragini/Farné), Luciano Deos (Gad’), Ronald Kapaz (Oz) e Ana Couto (Ana Couto Design) de empresas que passaram por esse processo e hoje estão em uma posição garantida no mercado: Bandeirantes Brinquedos, Oi, Claro, Ampla, Alpargatas, Hortifruti e outras. Todas investiram numa coisa: DESIGN.

Sim! Falar de marca é falar de design, mas da maneira mais primitiva e conceitual do termo: desenvolvimento de soluções. E Design, como todos apontaram, é a profissão (eu diria até o “negócio”) do século XXI. As empresas podem investir muito em propaganda – tentando empurrar goela abaixo do seu público coisas vazias – mas é no investimento em design que está a receita do sucesso. Com desenvolvimento de soluções corretas, adequadas, usáveis, úteis, causadoras de experiências positivas e também bonitas. Aliás o “belo” foi tratado por Kapaz como a conjunção de todos esses atributos, aquilo que “dá forma à alma”.

“Século XX: a propaganda é a alma do negócio. Século XXI: o design é a alma do negócio.” (Seragini)

Segundo Kapaz, “uma disfunção de identidade causa uma dor estética”. Investir em design é antes de mais nada entender (e na maioria das vezes repensar) a própria empresa. Seu posicionamento estratégico, seus processos, políticas internas, pessoas e motivações, fornecedores, tecnologia, equipamentos, capacitações, capacidades financeiras e logística, etc. Enfim, entender a “dor” da empresa, conversar muito com seus sócios, gerentes e também representantes de todas os níveis hierárquicos. Sentir o seu dia-a-dia. Entender a “sensação” que sua marca causa nas pessoas que a consomem.

É importante entender que “marca não é só visual: está em todas as dimensões sensoriais” (Deos) e que uma pesquisa concreta hoje (design innovation) envolve disciplinas como antropologia (Seragini)! “Produtos são feitos em fábricas. Marcas são feitas, e existem apenas, na cabeça do consumidor” (Deos).

Pensar a marca da empresa é analisar a fundo toda a sua história, como chegou onde chegou, como funciona atualmente e onde pretende chegar. É determinar suas estratégias de diferenciação – ainda que sua estratégia não seja inovação (ex. Pepsi).

Segundo Luciano Deos as estratégias de diferenciação podem ser:
  • Tecnologia: envolve esforço e investimento
  • Processos: logística
  • Inovação: ato contínuo
  • Marca: experiência vivida pelas pessoas que a absorvem (para não usar o termo “consomem”).
“80% do valor de mercado das companhias correspondem aos ativos intangíveis e marca é o ativo intangível de maior valor”. Basta olharmos para Google, Coca-Cola, Nike e outras tantas marcas conhecidas por praticamente todas as pessoas no mundo que mais do que identificarem seu logotipo, percebem e sentem o que elas representam – cada um a sua maneira (de acordo com cultura, idade, classe social), mas certamente com a sua filosofia como real “identidade corporativa”. Porque possuem um “posicionamento único, claro e diferenciado”.

Ronald Kapaz soltou algumas frases para reflexão, que escrevo aqui mas infelizmente não consegui anotar todas as fontes:
“Pensar é desenhar em sua mente”
“Não existem fatos, só interpretações” (Nietzsche)
“Não vemos as coisas como são. Vemos como nós somos.” (Anais Nin)

Se design é a profissão do momento, que empresas e seus empresários reconheçam o seu real significado para que um trabalho de marca possa ser construído a partir da sua essência.

Comentários

Unknown disse…
Excelente post, Re. Na correria do dia-a-dia, no trabalho, por vezes acabamos esquecendo qual a principal função do designer, que vc nos lembra aqui: projetar soluções. O branding tem muito mais valor quando transmite imagens/conceitos reais, que muitas vezes só no processo da pesquisa são identificados. Aí está uma das ações de responsabilidade social do designer: pesquisar, identificar e valorizar o que realmente diferencia uma empresa de outra nesse mar de competição. Deixemos as fórmulas e soluções prontas com publicitários do século passado. A imagem só se sustenta quando é mais que pura propaganda. Por conseguinte, o sucesso da empresa também. Não vamos subestimar a inteligência ou, pior, nos aproveitar da ignorância dos consumidores.

Postagens mais visitadas deste blog

Sebastião Salgado e sua veia antropológica

Internet: use e abuse.

Muitas empresas estão correndo atrás...